30.3.08

Grande Barreira de Coral, Austrália


Agora… está na altura de continuar…

Foi em Janeiro/Fevereiro que lá estivemos. Vivemos a bordo durante quatro dias, a trabalhar para pagar a estadia. Servíamos à mesa, mudávamos as camas, limpávamos os quartos, lavávamos uns pratos… no tempo livre mergulhávamos as vezes que queríamos.
Bem-vindos à Grande Barreira de Coral!

Sem palavras...


Um aquário natural


Tubarões do recife

Um de Pontas Brancas...

... e outro de Pontas Pretas.

Ainda bem que eram vegetarianos!
Mesmo assim ia sempre atrás do Miguel... não fossem mudar de hábitos alimentares!

"Finding Nemo"


Nadar ou voar?


Bivalvezinho!

A apanhar o petisco para o jantar. Conquilha à Bulhão Pato.
Só faltou a "Super Bock"!
Por falar nisso, não se esqueçam de votar no nosso Blog para os "Super Blog Awards".
(Só se pode votar uma vez por cada e-mail)

Jelly Fish


Mais perigosas do que os tubarões... mas mais lentas!
Suas "benenosas"!

Saxon Reef


O melhor sorriso para a fotografia


Norman Reef


Wally, o nosso companheiro de mergulho


Pormenores


Duas espécies raras!

(Terá sido um português que inventou esta marca de material de mergulho?)

Saxon Reef


Um dos muitos cardumes que nos rodeavam


Se fossem dois sargos...




Hastings Reef


Antes do último mergulho


Grande Barreira de Coral e Pequim


Concentro-me no espaço ínfimo entre mundos e vivo esse momento. Viajar tem destas alturas. Em que estamos apenas no meio.
Abro os olhos sem sono e mergulho no mar de coral. Ouço as cores, os peixes, a transparência. Não sei o que dizem. Entrei num mundo de outras histórias. A razão, as palavras, o poder do argumento ficaram no barco. Aqui entramos despidos de nós. Ouve-se com a pele, trocam-se os sentidos. É um peixe papagaio que me mostra o caminho. Espirais amarelas, azuis, negras, atravessam-me o horizonte. São ritmos. E hábitos. E texturas. Enormes e invisíveis, que participam ou se disfarçam, que aparecem do fundo ou do improvável. Vidas que me espantam a cada gesto de diferença. E eu, sem peso, sem respiração, sou mais do que um silêncio apesar de sem voz.

Abro os olhos sem sono e dou um passo para a rua. Oiço o vermelho, as vozes, o fumo. Não sei o que dizem. Entro num mundo de outras histórias. A opinião, as palavras, o poder do meu querer ficaram no quarto. Aqui entramos despidos de argumentos. Um casal oferece ao filho um papagaio de papel, uma explosão de cores presas à mão por um fio. Sigo-o por um instinto. E estou na multidão. De hábitos. E ritmos. E texturas. Tudo está a acontecer. Vende-se o puro e o improvável, com gritos ou no disfarce. Jogos, comida e meias juntam-se aos cantos de um qualquer fundo. A cada passo uma tradição, uma vida que se junta a outro alguém. Do nada, um fogo-de-artifício espanta os gestos de tanta diferença. E eu, com o peso dos cheiros e sem respiração, sou mais um silêncio que não precisa de voz.
Viajar tem destas alturas. Em que não há mundos que nos separem.
C.
Para ler também no Miniscente

24.3.08

Tibete



Não sou jornalista. Acrescento sempre palavras ao que vejo. E guardo outras, num recanto do meu egoísmo. Não acreditem no que escrevo, pensem apenas. Porque pode ser verdade.

Quem é que nunca sentiu a surpresa de uma notícia? Ou o susto de uma bomba de Carnaval? Ou encontrou um conhecido num lugar improvável? Ou se queimou, se arrependeu, pisou um buraco? Momentos… momentos… momentos… em que não temos tempo para controlar a parte de dentro do corpo. Era dia 10 de Março. E o maior desses momentos aconteceu. Descíamos a rua do Mosteiro de Drepung, com dezenas de monges, em debates e amizades criadas pelo puro acaso durante todo esse dia. Um falava sobre a importância da data, outro de liberdade, da vida, de estarem a um passo de ter voz. Apenas voz. Nem cabíamos dentro da pele. Os únicos diferentes do meio, mas no meio. Entre sorrisos vermelhos e vestidos de confiança, faláv… Sinto um braço a puxar-me, a rua bloqueada, e tanta gente. Polícias de choque, militares, camiões, um barulho confuso a impedir o caminho para Lassa. E um braço. A insistir, a puxar-me. Num segundo levou-nos para o outro lado da rua. Vi que era um polícia. Não podem estar aqui. Continuem a andar. Do outro lado os monges, num silêncio cada vez mais afastado. Mais carros, e homens, e carros, e homens. Sem farda. Fecharam as lojas, fecharam as casas. Voltaram. Tiraram as pessoas das casas. Continuem a andar. Ninguém olhava para trás. O medo envolvia os corpos. O que se passa? Responderam-nos: um fogo; exercícios… duas vozes fardadas. Queríamos voltar para trás. Já não conseguíamos ver as caras, apenas roupas vermelhas abafadas por uma força violenta. Armada.
Foi o início. Sabemos que muitos desses monges morreram no final desse dia.
Após quilómetros a andar por estradas de terra não batida, a tentar inventar ruelas que nos levassem a testemunhar a prepotência militar e policial sobre pessoas desarmadas, descobrimos o pior. A nossa impotência. O bloqueio estendia-se ao inimaginável, até nenhum som vindo do Mosteiro se conseguir ouvir. Máquinas fotográficas inspeccionadas ao milímetro, questionados ao milímetro, desde esse instante, controlados ao milímetro. Telefones, internet, conversas, gestos e decisões. Tínhamos sido as únicas testemunhas do início, da violência utilizada sem justificações de defesa, da experiência que demonstraram, da rapidez com que limparam o local de olhos e provas, da postura silenciosa daqueles monges. Os sete dias até à chegada ao Nepal, por terra, a dormir em pequenas aldeias no meio dos Himalaias, ficaram marcados pela tentativa de criar medo. Presos nos quartos, revistados, identificação constantemente exigida na estrada e após a única consulta do e-mail, as horas que passámos na fronteira… Mas não foi o que mais me assustou. Foi a certeza do que vi: o controlo do povo chinês e tibetano levado ao extremo por violência e impunidade; a quantidade sem fim de agentes à paisana ou pessoas que a troco de uns sapatos novos falam do que se passa na casa ao lado; o medo; a propaganda; a confissão assustada de que a falta de direitos humanos ultrapassa o não ter pão. Aqui morre-se por ter opinião.

Tudo o resto que vivi no Tibete ultrapassa um texto legível… por enquanto. Mas tenho voz. E não me esqueço.

Texto: Clara Faria Piçarra
Fotografia (tirada instantes antes): Miguel Sacramento

Durante o dia 10.03.2008 no Mosteiro de Drepung, Lassa, Tibete














8.3.08

Austrália

Foi na Austrália que me senti do outro lado do Mundo. Não apenas por me sentir longe, mas por termos vivido extremos: do fundo do mar ao calor seco de Uluru; do couchsurfing ao não sabermos se teríamos sítio onde dormir; do medo do confronto com os animais mais perigosos do planeta e a emoção de estar com Koalas e Cangurus. Foi onde vimos velhos inimagináveis em matinais de surf, condutores de autocarros que nos desejavam “have a nice day” e onde quase dei a vida por um pastel de nata. Foi onde tive a notícia da morte de um amigo. E percebi que o mundo não é pequeno.

C.

Skyline de Sydney


Ópera de Syney

... e estávamos em Janeiro!

Ópera e Harbour Bridge, Sydney


Manly Beach


Dá para acreditar?

Buondi Beach

Com o Christian e o Neil.
Chegámos a Sydney no dia de Natal. Nesta altura do ano Sydney é uma cidade sobrelotada. Juntam-se as férias escolares de Verão, a famosa festa de passagem de ano, os saldos do “boxing day”, a partida de uma das maiores regatas do mundo, a Sydney-Hobart Race e a fase final do Campeonato do Mundo de Criquete (para os australianos, o evento desportivo mais importante do ano). Não havia lugar para ficarmos, nem carros para alugar, não tínhamos sítio onde dormir.
Foi o Neil que nos salvou! Não se importou que já tivesse o Chris como "couchsurfer", que os filhos e o irmão também estivessem lá em casa... não só nos deu uma cama para dormir como nos fez sentir parte da família. São pessoas assim que gostávamos de continuar a conhecer pelo mundo.

Petersham

Desde a Nova Zelândia que me apetecia uma bica. Melhor, queria pedir uma bica! O desespero chegava quase ao cúmulo de não me importar ouvir a resposta típica do outro lado do balcão: "Queria? Já não quer?". Sim, estava a atingir proporções graves... Um mês depois o desejo prolongava-se para pastéis de nata. Não sei se por já não me poder ouvir ou se por medo que a volta ao mundo acabasse com o meu regresso aos Pastéis de Belém, o Miguel resolveu fazer-me uma surpresa. Saímos cedo de casa do Neil, andámos por metros e autocarros pelos subúrbios de Sydney e chegámos finalmente a Petersham, onde vive a comunidade portuguesa (onde terá ele descoberto este lugar?). Começámos com uma feijoada, um pãozinho saloio com manteiga e azeitonas, um tinto do Douro e terminámos com a bela da Bica e dois pastéis de nata... Jiboiámos o resto do dia... mas com um sorriso impossível de disfarçar.

Aí está ele!

O homem não pára! O verdadeiro artista está em todo lado! Só podíamos estar no Bairro português de Sydney.

Bells Beach Surfing Reserve

Ribeira d´Ilhas??? Não! Bells Beach, a mais famosa onda australiana.

... E a também famosa vizinha do lado, Winkipop ao nascer do dia.

Torquay

Quando ainda não tínhamos a parte de cima da tenda!

Koalas


Numas árvores à beira da estrada!

The Great Ocean Road



Pormenores de uma das estradas mais bonitas que já percorremos.

Melbourne


Tunning em Melbourne

Um momento surrealista com o Rohan! Não, a culpa não foi minha, o carro não era nosso... uma longa história! Se coubesse na mochila levávamo-lo para "Kitar" a Opel Combo!

Melbourne


A Corinne e o Rohan (primeiros a contar da esquerda) receberam-nos de braços abertos na sua casa de Melbourne. Conhecemo-nos em Puerto Madryn, na Patagónia. Todos os dias nos faziam uma pequena surpresa. A deste dia foi um piquenique à borda do rio Yarra para vermos o espectáculo de fogo nocturno da cidade. Esperamo-los em Portugal... mas primeiro temos que tirar um curso de cozinha Gourmet para nos mostrarmos à altura!
Foram dias de tratamento VIP só comparados à hospitalidade da Velosa Family em Brisbane! Ainda hoje sonhamos com aquele bacalhau com natas... Obrigado, Ema! E obrigado, João, por carregares com o "saco levezinho" das pranchas até Portugal!

Cangurus, Brisbane


Quem me viu e quem me vê! Mas os cangurus são irresistíveis.