Foi há muitos anos. E a minha alma tinha morrido.
Era um nada. E dor. Tinha deixado de ser.
Foi quando percebi que me pegavam ao colo, que me levavam ao ombro, que me alternavam o peso numa caminhada impossível até um estádio que, para mim, tinha deixado de ser olímpico. Desconheciam que não me levavam inteira, cada um carregava apenas um estilhaço.
Saio do carro. Descalça. Piso a areia com força. Com força. Como se quisesse atravessar o mundo. Ouço os gritos de um grupo de adolescentes. Não percebo como. Eu continuo calada. Hoje soube que morreu um amigo.
Ando até molhar os pés. Por momentos esqueço-me que estou na Austrália. Não penso em tubarões nem em experiências de vida. Não me lembro. Não ouço. Não acredito. O mar parece-me muito maior. Quase impossível.
Foi há muitos anos. E a minha alma tinha morrido.
Carregavam-me quando era apenas estilhaços. E riram-se. Não sabiam que nesse momento davam sentido ao meu reinício.
Mergulho até não aguentar não respirar. Estou viva. E sei que a partir de hoje sou eu que carrego um estilhaço. De um amigo.
C.
(Para ler também no Miniscente)
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3 comentários:
Olá Clara,
Não sei se te lembras de mim, sou o Mário Rui do Pólo, do SAD.
Tenho passado por aqui várias vezes.
Continuem a fazer boas viagem, disfrutem, tragam memórias, lindas fotos e não quero deixar de te deixar um abraço amigo!
Bela prosa. Uma bela homenagem a esse amigo. A todos os amigos que nos deixam estilhaços.
Simplesmente magnífica descrição ...... :)
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